sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quatro passos para uma gestão de riscos eficaz

Quando falamos em gestão de riscos, estamos admitindo que um negócio pode não sair exatamente como foi planejado. Por exemplo, se eu tenho um carrinho de lanches onde vendo hot dogs ao preço de R$ 1,50, e planejo vender 80 unidades por dia útil, estou esperando uma receita mensal de R$ 2.400,00. Se o custo unitário do meu hot dog é de R$ 1,00, espero ter um custo mensal de R$ 1.600,00, e um lucro de R$ 800,00.

Ora, muita coisa pode acontecer e impactar o valor do meu lucro. O preço dos insumos pode subir, um concorrente pode me forçar a baixar os preços e eu posso ter um volume de vendas diferente do esperado. Todos esses são fatores de risco.

Quando reduzimos o risco a um número, normalmente estamos nos referindo ao desvio padrão que o valor do lucro pode ter. Assim, um risco de 10% no meu lucro de R$ 800,00 significa que há grande chance do valor do lucro se situar no intervalo de R$ 720,00 à R$ 880,00. Quanto menor o risco, mais estreito será esse intervalo.

O primeiro passo para o desenvolvimento de uma estratégia eficaz é a identificação do risco. É preciso saber que existem riscos sistemáticos, riscos não sistemáticos, riscos do negócio e riscos estratégicos.

Os riscos sistemáticos (ou não-diversificáveis) normalmente se referem a riscos macro-econômicos, políticos ou sociais, que impactam na variação de juros, inflação, percepção de mercados, barreiras tarifárias e outros. Inflação pode aumentar o preço dos insumos do meu hot dog, o que faria com que eu repassasse esses custos para o preço do produto e, talvez, impactasse em queda do volume vendido.

Já os riscos não-sistemáticos são chamados de diversificáveis, pois se referem a particularidades de um segmento, de uma entidade ou de uma classe de investimento. Em um mundo preocupado com uma alimentação mais saudável, é possível que a demanda por hot dogs caia no longo prazo. Como a diversificação de uma carteira de investimentos pode eliminar ou reduzir os riscos não-sistemáticos, eu deveria investir parte dos meus lucros em um outro negócio, que compensasse perdas no carrinho de lanches.

O risco estratégico é aquele que a entidade corre para obter vantagem competitiva. Exemplos dessa classe de riscos são o desenvolvimento de novos produtos, a entrada em um novo mercado e ações de marketing. Buscando diferenciação, acrescentei um molho apimentado no hot dog, o que pode trazer novos clientes ao negócio, mas também pode afastá-los. De qualquer forma, é fundamental ter uma estratégia e estar disposto a correr seus riscos.

Por último, o risco do negócio ou risco operacional é aquele que está relacionado com problemas tecnológicos, má administração, falta de controles e falha humana.

O segundo passo é a quantificação do risco. Técnicas baseadas no VaR (Value at Risk), metodologia desenvolvida pelo JPMorgan em 1994, Teoria das Opções Reais e Análise de Cenários são algumas das ferramentas que devem ser estudadas, adaptadas e aplicadas aos riscos identificados. Cenários de estresse devem ser pensados para quantificar o tamanho do estrago que determinados riscos podem produzir.

Poderíamos pensar, por exemplo, em um cenário onde a demanda por hot dogs cai 50%, ou ainda, em outro onde o preço de venda cai, mas os custos não.

Após a identificação e a quantificação dos riscos, o terceiro passo é arquitetar a estratégia de hedge (proteção) da corporação. Uma estratégia eficaz deve levar em conta não só os riscos, mas os objetivos e a cultura da organização.

Riscos financeiros ou de preços podem ser eliminados ou mitigados através de transações com derivativos ou instrumentos financeiros não-derivativos que produzam efeito oposto ao da exposição. Os riscos não-financeiros podem ser mitigados com ações de entrada, saída, aumento ou redução de participação em determinado negócio/ segmento, por exemplo. Deriva de decisões estratégicas, e não meramente técnicas.

O quarto e último passo para uma gestão eficaz de riscos é o controle. A efetividade da estratégia de hedge deve ser projetada antes e acompanhada durante sua execução. Uma estratégia eficaz é aquela que mitiga riscos de forma eficiente, com o menor custo possível, o que não é tarefa fácil, é verdade.

A eliminação completa dos riscos é impossível, e nem deveria ser desejada. É sempre bom lembrar que não existe oportunidade sem risco. O desafio é equilibrar a equação de risco e retorno de forma que atenda adequadamente às expectativas do investidor, de forma justa, ética e, como não poderia deixar de ser, empreendedora.

Texto de Eric Barreto, publicado originalmente no Financial Web, sob o título "Quatro passos para uma gestão eficaz de riscos" (http://www.financialweb.com.br/noticias/index.asp?cod=70024), em julho/2010.

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