Há poucos meses, resolvi mudar um
pouco a minha rotina, colocando em prática conceitos de sustentabilidade nos
quais acredito, porém, muitas vezes me sentia mal por deixa-los somente na
teoria. Comprei uma bicicleta elétrica e decidi deixar o carro na garagem
durante a semana.
Desde o início, os três
principais tipos de reação à minha opção de transporte foram:
Reação 1 - “Você é louco! Ninguém
respeita o trânsito em São Paulo!”
Reação 2 – “Bicicleta elétrica?
...assim até eu... (risos)”
Reação 3 – “Que legal! Tenho
vontade de fazer isso, mas São Paulo não é uma cidade plana, não há ciclovias,
não tem como pedalar com roupas de trabalho, não tem como carregar a bicicleta
no transporte público, etc.”
Hoje, posso assegurar que
qualquer uma dessas três reações faz sentido.
A cidade realmente não é plana,
por isso, a bicicleta elétrica é uma saída para aqueles que, como eu, não são
grandes atletas, mas querem fugir do sedentarismo e, ao mesmo tempo, contribuir
para uma cidade com menos trânsito e poluição. Problema: com uma carga
tributária absurda e sem fabricantes nacionais, uma bike elétrica não sai por
menos de R$ 2 mil. Espero que isso mude depressa!
Quanto às roupas de trabalho,
resolvi o problema instalando um bagageiro, daqueles parecidos com as motos de
entrega. A camisa limpa vai guardada no bagageiro, e só é retirada de lá quando
chego no trabalho.
Integração com o transporte
público? Tenho visto a abertura de vários bicicletários em estações do Metrô e
Trem de SP. Na Estação Butantã, inaugurada em 2011, o espaço para as magrelas
já não é suficiente para a demanda. Para quem prefere carregar sua companheira
no Metrô, em um dos vagões da ponta há uma sinalização dizendo “aqui sua
bicicleta é bem vinda”. Sinceramente, não sei para quem ela é bem vinda, pois
nos horários de pico, mal cabe um par de patins nas composições. De fato, nunca
vi uma bicicleta dentro do Metrô ou do Trem. Talvez esteja enxergando mal...
E as ciclovias? Fiquei sabendo
que foi construída uma na Radial Leste, paralela ao Metrô, mas ainda não vi.
Basta pensar um pouquinho sobre o assunto para entender que as ciclovias devem
complementar o caminho do transporte público, e não concorrer com ele. Assim,
seria muito mais útil construir ciclovias para levar ao Metrô e não para andar
ao lado dele... Há uma ciclovia que vai de Interlagos à Vila Olímpia, paralela
ao trilho do trem, coladinho à margem do Rio Pinheiros. Essa eu vejo sempre,
mas não pedalo nela. Não, não vou reclamar do mal cheiro do Rio, e nem do fato
desta ciclovia fazer exatamente o mesmo caminho do trem. Eu não poderia fazer
pouco caso da “boa vontade” do poder público em construí-la... O fato é que toda
semana passo ao lado desta ciclovia, mas nunca vejo bicicletas por lá. Será que
não existem bicicletas na cidade ou as bicicletas são invisíveis?
Nosso Prefeito se gaba ao falar
sobre as ciclofaixas, espaço reservado para a circulação de bicicletas que liga
alguns parques da cidade. As faixas fazem muito sucesso entre os ciclistas. Pena que FUNCIONAM SOMENTE AOS DOMINGOS...
Para aqueles que riem quando eu digo
que a bicicleta é elétrica, podem rir mesmo. Se até eu consigo, tenham certeza de
que muitos outros podem sair do sedentarismo. A propósito, continuo acima do
peso mas, sem fazer dieta, a medida das minhas calças e cintos já diminuiu um
pouquinho.
Por fim, para aqueles que acham
que eu sou louco por andar de bicicleta no trânsito, eu digo: sou um louco
consciente. Tomo todo o cuidado do mundo, mas os carros, as motos e os ônibus
não enxergam as bicicletas. Elas são
muitas, mas as bicicletas são invisíveis aos olhos dos motoristas e
motociclistas, e mesmo assim, vivem atrapalhando aqueles que colocam a vida
do ciclista em risco, em troca de alguns poucos minutos ou, na maioria das
vezes, para parar no trânsito que com certeza está esperando a poucos metros.